O verbo gustar e seus casos particulares
O QUE OS PROFESSORES NUNCA LHE DISSERAM
Nas aulas de ELE, é dada especial ênfase às frases com “gustar”, uma vez que, como é bem conhecido por todos os professores, a semelhança/diferença das estruturas que geram gostar/gustar é um ponto de dificuldade especial para os alunos:
- O verbo gustar em espanhol é conjugado de maneira diferente do português. Este verbo tem uma conjugação especial se o compararmos mesmo com outros verbos espanhóis, uma vez que a sua conjugação depende não do objeto da frase, mas do seu complemento. Ele é diferente do gostar do português: precisa de pronome auxiliar, o pronome indica a pessoa, não a conjugação do verbo.
Observa:
O verbo gostar igual que o encantar e outros do seu estilo é um verbo “interesseiro” e muito materialista (sim, tal como você ouve) e por isso segue sempre as coisas, malandro e conveniente, importando-se com o material e não com as pessoas, por isso se combina com o objeto e não com o sujeito. Tá bem, as vezes segue verbos em infinitivo também. Assim o verbo será plural (gustan) ou singular (gusta) dependendo do objeto que vem depois:
-Me gusta el chocolate blanco (Gusta + singular)
-Me gusta ver la nieve (Gusta + infinitivo)
-Me gustan los viajes en coche (Gustan + plural)
Quem vai determinar quem está gostando de tal o qual coisa serão os pronomes que acompanham ao verbo Gustar: me, te, le, nos, os, les. O verbo combina com o objeto gostado, não com a pessoa.
E depois de muita prática, repeteco e treino do mantra “gustar combina com objeto nunca com sujeito”; os alunos, que tiveram um esforço danado para lidar com essa diferença, ficam surpreendidos ao encontrar frases como estas abaixo que, por sinal, estão corretas:
-Yo opino que los políticos, en general, no gustan.
–Wanda gusta de Mauricio.
Será que meu professor me ensinou errado??
Não, não ensinou errado, calma. Ele só te ensinou a forma mais usada.
Os pronomes são sempre um ponto de dificuldade no ensino/aquisição de uma língua estrangeira. Por um lado, porque a forma de significado de um pronome é diferente da forma de significado de outros elementos da linguagem, tais como verbos, substantivos ou adjetivos, que têm um valor descritivo permanente. Os pronomes e a sua interpretação dependerão do elemento que estão apontando (as formas que funcionam como sujeito pertencem ao caso nominativo, as formas que funcionam como objeto direto, o acusativo, as que funcionam como objeto indireto, o dativo).
O verbo gustar é usado, maiormente, com a forma dativa do pronome:
- Me gusta el cine español.
- Te gustan las cosas dulces.
- Le gusta la filosofía.
- Nos gustan las personas
- Os gusta solamente lo fácil ¿verdad?
- Les gusta la comida picante.
Lembremo-nos agora das diferenças:
Tanto o verbo gustar como o verbo gostar têm a mesma estrutura semântica (indicam gosto, preferência por algo), mas apresentam estruturas sintácticas diferentes. Cada língua expressa estes papéis semânticos com diferentes funções sintácticas. Vejamos as diferenças:
Gostar requer um complemento com a preposição de
e Gustar requer um dativo.
Mas, então, como podemos compreender as diferenças no uso do verbo gustar que aparecem nos exemplos a continuação?
- Me gusta el cine español.
- El mondongo, en general, no gusta
- Wanda gusta de Mauricio .
2. O verbo pode aparecer sem o seu dativo porque fazemos uma interpretação GENÉRICA desse experimentador:
-El mondongo, en general, no gusta (frase 2)
Os professores insistem na ausência de uma preposição e na exigência do pronome dativo com o verbo gustar (me gusta el cine español; frase 1) devido à dificuldade de diferenciar esta construção do verbo gostar. E o fazemos com boas razões, pois é a estrutura mais frequente em que este verbo ocorre. O Diccionario panhispánico de dudas diz que esta estrutura: “es la construcción normal en el habla corriente.”
Agora, observa este caso:
–Beatles gusta más que Elvis Presley
Esta afirmação pode causar surpresa porque o verbo gustar aparece aqui sem o pronome dativo. Mas, na realidade, estamos perante o mesmo tipo de predicado que na frase: El mondongo, en general, no gusta (frase 2); mas com um objeto dativo nulo (isto é, sem um sintagma nominal ou pronome pessoal que o represente), e essa falta é precisamente o que nos permite interpretar que qualquer pessoa/alguém é o experimentador.
3. O uso do verbo gustar com a mesma estrutura de gostar (Wanda gusta de Mauricio; frase 3 ) aparece, na forma oral ou escrita, quando o sujeito é humano; como diz o Dicionário RAE (2001): Dicho de una persona: Resultar atractiva a otra.
4. Quando o sujeito não é humano, o Dicionário panhispánico de dudas indica que esta construção está documentada sobretudo na linguagem escrita e adverte para a necessidade da preposição se o sujeito for um infinitivo. Observa este exemplo:
-Gustaba de mirar el horizonte esperando a su marido
Ficou mais fácil agora? Ainda não? Calma que vou te resumir!☻♥☺
Em resumo
•Vimos a construção mais frequente do verbo e verificamos que nesta construção pode faltar o dativo sempre que se pretende uma interpretação genérica ou universal do participante que nessa situação é o experimentador ( O mondongo, em geral, não é apreciado).
Observamos também que o verbo tem outras possibilidades diferentes de construir o seu predicado e que estas construções apresentam restrições:
•Só aparecem se o tema tiver uma característica humana, ou seja, se uma pessoa estiver na origem da atracão (Wanda gusta de Mauricio)
• Estas são construções típicas da linguagem escrita (“Gustaba de mirar el horizonte esperando a su marido”)
Espero que a utilização de certos termos técnicos para examinar os exemplos que nos interessavam, tenham sido úteis para ajudar a compreender melhor estas estruturas que acabamos de analisar e que já não representam peças que temos de guardar na nossa memória e repetir sem saber, mas sim, compreender elas como um todo e aplicá-las corretamente.
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Saludos y hasta la próxima.
La profe Wanda.